Povo Juruna: os “Boca Preta” e o alimento bom, limpo e justo

Durante a Capacitação de lideranças Slow Food na América Latina e no Caribe, organizada pelo escritório do Slow Food na América Latina e Caribe, as/os participantes, que aprenderam sobre ativismo, advocacy e muito mais, também tiveram a oportunidade de escrever e se expressar sobre essas mesmas questões, que são temas-chave do trabalho que está sendo feito dentro do movimento. Nesta ocasião, publicamos a redação escrita por Murilo da Silva Machado Juruna.

Um relato sobre meu povo e nossa relação com o movimento Slow Food

O Povo Juruna é um grupo indígena que está localizado no estado De Mato Grosso, bem como junto ao baixo rio Xingu, no Pará, na TI Paquiçamba e Área Indígena Juruna do Km 17. O grupo Juruna do qual faço parte habita uma área localizada às margens da rodovia Ernesto Acioly (PA-415), no município de Vitória do Xingu.

Resgatando o histórico de ocupação, a família de Francisca de Oliveira Lemos Juruna, falecida em 2001, viveu neste local desde o ano de 1951. Anteriormente moravam no barracão denominado Iucatã, situado no alto Iriri. Hoje neste terreno, vivemos a base da criação de animais e da agricultura familiar além da feitura de roçados, criação de galinhas e porcos, coleta de produtos extrativistas, especialmente do açaí e pequenas hortas.  

Um dos membros da nossa comunidade, Amaury Juruna, que entrou no movimento Slow Food no ano de 2014 com a proposta de inserir na Arca do Gosto a “Golosa”, uma fruta existente somente na região do médio Xingú e que teve sua grande maioria cortada devido a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Amaury também liderou a criação de uma horta que envolvesse a mão de obra jovem da nossa aldeia fornecendo alimentos bons, limpos e justo para os consumidores locais e escolas. Em 2017, elaborou, em conjunto com o poder público, o projeto de criação do Festival Gastronômico do Povo Juruna no qual foram catalogados 54 pratos tradicionais. A ideia do festival se deu após observar que, na nossa aldeia, jovens que trocaram sua alimentação tradicional estavam a sofrer de doenças ocasionadas pelos produtos industrializados enquanto os mais velho,que mantinham sua alimentação tradicional, não apresentavam nenhum problema de saúde. 

Apesar de todo o trabalho realizado por nós, muitos jovens têm deixado de seguir esse caminho. No ano de 2016 me identifiquei bastante com esse projeto. Junto com meu irmão, Mauricio Juruna, e Amaury juruna criamos uma horta coletiva e juntos pudemos nos conectar com os demais jovens. Esses jovens passaram a ter uma outra visão sobre o processo de como a alimentação tradicional é importante, juntos fizemos um roçado onde realizamos o plantio da Mayaka, que significa Mandioca em nossa língua materna. 

Desde criança sempre acompanhei meu pai, Antônio Juruna, nas atividades agrícolas, desde o plantio até a colheita. Foi através desses momentos que aprendi a respeitar e cuidar da natureza, me levando a ser, hoje, sou comunicador e porta voz da Comunidade Slow Food Valorização Da Mandioca Do Povo Juruna km – 30. 

Fotos: Murilo e Sua Mãe Rosilda Juruna

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