Do campo à periferia amazônica

Durante a Capacitação de lideranças Slow Food na América Latina e no Caribe, organizada pelo escritório do Slow Food na América Latina e Caribe, as/os participantes, que aprenderam sobre ativismo, advocacy e muito mais, também tiveram a oportunidade de escrever e se expressar sobre essas mesmas questões, que são temas-chave do trabalho que está sendo feito dentro do movimento. Nesta ocasião, publicamos a redação escrita por Zhamis Benício.

Slow Food Manaus em campanha contra fome com alimentos excedentes dos agricultores orgânicos

Na Amazônia se encontra a maior concentração de biodiversidade da Terra. Um bioma abundante em frutas, legumes, verduras, peixes e outros produtos alimentícios. No entanto, esses recursos são pouco explorados, devido à falta de políticas que realizem esse fortalecimento na produção e exploração realizados pelas comunidades amazônicas.

É a maior bacia hidrográfica do mundo, despejando cerca de 17 bilhões de toneladas de água no Atlântico por dia, na qual 24 milhões de brasileiros e brasileiras vivem, entre eles povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas, coletores, agricultores, imigrantes nacionais e internacionais que chegaram em busca de territórios, exploração dos recursos naturais e melhores condições de vida. Um lugar onde se fala mais de 180 línguas nativas.

Também se trata da maior biomassa florestal do planeta, ocupando 61% do território brasileiro. Ela consegue sair ilesa das mudanças climáticas, porém não às ações do homem. Segundo pesquisadores ambientalistas, o planeta está passando por um período de extinção em massa, a sexta maior, tendo a última ocorrido há 65 milhões de anos. Essa extinção está sendo provocada pelo homem, que encontra meios de exploração com fins comerciais sem sequer se importar com os danos causados neste processo, que afetam principalmente os ecossistemas e a biodiversidade que nele habita, desde as estruturas mais simples como microorganismos até as mais complexas passando por animais, vegetais e ecossistemas. Hoje já são 20% da floresta desmatada.

Com o crescimento populacional, alguns povos tradicionais migraram para as grandes cidades como Manaus, capital do Amazonas, localizada no coração da floresta. Atualmente, de acordo com o estudo técnico da Câmara Intersetorial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN) realizado em 2016, sua população é de mais de 2 milhões de habitantes e, pelo menos, mais de 60% encontra-se em estado de vulnerabilidade social, alimentar e nutricional. Nesse cenário, a comunidade Associação de Produtores Orgânicos do Careiro da Várzea (ASPROCARV) Peniel do Areal na região do Careiro da Várzea- AM, vem fornecendo parte da sua produção durante a pandemia da COVID-19 para o combate à fome na cidade de Manaus e nas regiões vizinhas, por meio de ações realizadas pelos integrantes da Comunidade Slow Food Manaus, nas diversas campanhas e projetos que visam a arrecadação de alimentos agroecológicos e orgânicos para comunidades urbanas e rurais no entorno da capital.

Ter seus alimentos escoados é essencial para os agricultores, pois boa parte da sua produção está destinada para merenda escolar, mas algumas escolas ainda seguem fechadas. Para resolver dois problemas de uma vez só, a Comunidade Slow Food Manaus contou com a realização da campanha Alimenta Manaus, cuja participação e apoios de: Órgãos Públicos (SEPROR- IDAM), Conselhos de Nutrição (CONSEA), Institutos de pesquisas (INPA), Rede de Agroecologia (REMA), Plataformas de comercialização (ONISAFRA), projetos culturais (Residência do Alimento), entre outros apoiadores foram imprescindíveis. Pois a compra da produção dos agricultores foi realizada, evitando o desperdício de alimentos e sendo doadas

para grupos em extrema vulnerabilidade como indígenas em contexto urbano e rural, refugiados venezuelanos, ribeirinhos entre outros.

São por meio dessas ações que passamos a conhecer um pouco mais a realidade alimentar e nutricional das nossas comunidades e assim podemos atuar enquanto movimento social em busca de melhores formas para fazer chegar esses alimentos nas mãos de quem tem fome.

Fotos: André Cavalcante

 

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