A Universidade de Ciências Gastronômicas sediou o Migranti Food Festival

A Universidade de Ciências Gastronômicas, instituição educacional fundada por Slow Food em 2004, foi a sede do Migranti Film Festival que ocorreu de 10 a 12 de Junho no campus universitário em Pollenzo, na Itália. O festival de cinema chamou a atenção para questões concernentes a imigração com foco especial sobre a segunda geração de imigrantes, a coexistência, a identidade e o multiculturalismo.

Abderrahman Amajou, coordenador dos projetos de Slow Food International relacionados com os imigrantes, participou ativamente no evento, reunindo famílias de comunidades de imigrantes para um iftar que é a primeira refeição dos Muçulmanos, ao por do sol, após um dia de jejum. As famílias hospedadas vinham do Senegal, Costa do Marfim, Mali, Guiné, Marrocos e de outros países da África subsaariana.

“Ocasiões como esta rompem os muros existentes entre nós, muros de prudência. Eles dizem, ‘só conhecemos alguém de verdade quando compartilhamos uma refeição’. E aqui estamos, tentando nos conhecer melhor e compartilhando uma refeição”.

O projeto Migranti objetiva reunir um grupo de escritores, pesquisadores e cineastas, imigrantes, agricultores, produtores e cozinheiros num trabalho de inclusão de “outros” membros da sociedade. Uma das metas do projeto é representar a diversidade e as experiências únicas da imigração. Os cineastas imigrantes participaram dos debates após a exibição dos filmes e trocaram opiniões com o objetivo de criar uma plataforma para debate, apoio e ação.

O Ramadã é um momento importante do ano. Os Muçulmanos despertam antes do nascer do sol para uma refeição e então jejuam até o por do sol. É um mês de solidariedade, de conciliação e um caminho percorrido por todos os membros de uma comunidade. Mais importante ainda, é um mês de empatia: “Faz-se o jejum para entender àqueles que nem sempre têm o que comer ou beber por lhes faltarem meios” diz Amajou, que chegou na Itália aos sete anos seguindo seu pai que já havia vindo para trabalhar na extração de fosfatos. “Um dia nos disse que teria partido para a Itália. Eu nem sabia onde ficava. Fiquei até dois anos sem vê-lo.”

O projeto Migranti baseia-se integralmente na criação de um grupo, sem líderes, que visa o desenvolvimento de talentos individuais. O festival de cinema é uma pequena parte de um objetivo mais amplo que inclui mudanças sociais e transformação individual. Esse processo pode ter um impacto real, fazendo com que um grupo ou uma comunidade possa desenvolver soluções próprias para seus problemas e comunicar suas necessidades e ideias.

Segundo Amajou, os governos deveriam priorizar a produção de meios adequados para a integração dos imigrantes e a Itália, ao longo dos anos, progrediu muito nesse sentido criando programas de integração para que os imigrantes se familiarizassem com a sociedade italiana. O festival de cinema e o encontro para o iftar aumentaram decididamente seu otimismo: “Vinte anos atrás teria sido muito difícil realizar um evento como este. Os muros entre as diversas etnias eram muito mais evidentes. Houve uma mudança realmente positiva. ”

No futuro próximo, as comunidades de imigrantes na Itália terão participação mais ativa nos projetos de Slow Food. Os coordenadores regionais de Slow Food atuarão como pontes entre as comunidades de imigrantes da Itália para fortalecer as relações com seus próprios países de origem e valorizar suas culturas gastronômicas.

Um exemplo já em andamento é o da comunidade de imigrantes peruanos que participaram no festival de cinema. Curiosamente, eles estão gradualmente influenciando a gastronomia italiana. “Estão enriquecendo a biodiversidade trazendo novas sementes e produtos da cultura andina para cultivá-los aqui.” Amajou também relacionou esse elemento com as mudanças climáticas: “Os vegetais que estão cultivando nunca teriam crescido na Itália. Agora isso é possível porque há algo diferente com o clima.”

Durante o festival foram exibidos seis longas-metragens em competição, além de oito curtas-metragens e outros filmes. Houve também concertos, iguarias servidas pelas comunidades de imigrantes, workshops, e encontros com acadêmicos da universidade.

 

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