Um mundo de milho

cornProvavelmente, muitos já leram O dilema do onívoro, o famoso livro de Michael Pollan que, quase como uma investigação policial, ajuda-nos a entender a história e o percurso do alimento que comemos. O primeiro capítulo é dedicado ao alimento industrial: monoculturas e produtos que abarrotam as prateleiras dos supermercados. Uma frase do livro serviu de inspiração para a mostra do Slow Food “Scopri la biodiversità” (descubra a biodiversidade), aberta a todos os visitantes do nosso espaço na Expo 2015: “Você é o que você come, e se isso é verdade, então aquilo que mais comemos é milho. Portanto, é isso que nós somos: milho”.

Qual o nosso objetivo com a enorme instalação de um homem gigante, inteiramente feito de milho? Antes de tudo, faremos uma série de perguntas, nada óbvias. Quantas vezes você come milho? Onde está todo o milho que consumimos? Por que não consta no rótulo? Milho faz bem para a saúde? Vamos por partes.

A base da alimentação da sociedade contemporânea é, em grande parte, o milho. Onde quer que vivamos, comemos milho várias vezes por dia, muitas vezes sem saber, sem nos darmos conta. Não estamos falando da espiga ou dos grãos de milho numa salada, mas do milho processado, que se transforma em outro produto – para não dizer em tudo – tornando-se matéria-prima invisível dos nossos alimentos. O milho é processado nas rações para galinhas, porcos, perus, cordeiros e até mesmo salmões de criação intensiva. Há milho no bife, nos ovos e em boa parte do leite, queijo e iogurte.

Também é milho a maioria dos alimentos industrializados. A lista é enorme: biscoitos, bolinhos, pudins, sorvetes, pastas, manteiga de amendoim, batata frita, ketchup, salsichas, pratos prontos, balas, barrinhas de cereais, chicles, maioneses, geleias, molhos, preparados para bolos, flocos de cereais, frutas em calda, iogurtes aromatizados, margarinas, comidas para bebês… Sem falar dos refrigerantes, adoçados, em maioria, com xarope de milho de alto teor de frutose…

O milho está em tudo, embora seja difícil identificar a sua presença. Nos rótulos alimentares está disfarçado com outros nomes: glicose, ácido ascórbico, ácido cítrico, malte, maltodextrina, dextrinas, frutose cristalizada, amido modificado, sorbitol, lecitina, fermento em pó, dextrose, lisina, ácido lático, maltose, sacarose, caramelo, goma xantana, açúcar invertido, monoglicerídeos, glutamato monossódico.

Mas não vamos parar aqui. Questionaremos se todo esse milho faz bem à nossa saúde e quais as consequências ambientais do cultivo em larga escala de uma planta que consome quantidades extraordinárias de energia e recursos naturais. Tentaremos reconstruir uma história que começou há milhares de anos no México. Segundo o Popul Vuh (o livro dos Maias), a própria origem do homem se deve a essa planta. Uma história que originalmente falava de inúmeras variedades e de grãos de várias cores: não só amarelos, mas também vermelhos, negros, azuis e multicoloridos. No México e nos Andes, existem milhares de variedades de milho, com plantas diferentes (por altura, tipo de folha e flor) e espigas de diversas formas, tamanhos e cores. Essas variedades representam um patrimônio genético e cultural inestimável, mas a introdução de milhos híbridos e de milhos geneticamente modificados (nas últimas décadas) reduziu consideravelmente essa diversidade. O milho tornou-se o cultivo mais produzido do mundo, chegando a 974 milhões de toneladas em 2014. Atualmente, os Estados Unidos são o maior produtor mundial de milho, seguidos pela China e pelo Brasil.

Assim, o Slow Food tentará contar a história do milho, para que os visitantes entendam, com textos e imagens, como se tornou invasiva. Tentará mostrar que não acreditamos ser esse o caminho certo para alimentar o planeta, pois uma produção em escala tão grande não traz benefícios para as famílias rurais, não respeita o meio ambiente e é anônima do ponto de vista do sabor. Para o Slow Food, os alimentos que nutrem o planeta são outra coisa: são alimentos com uma alma, uma história, um vínculo profundo com o território. Convidamos todos para descobri-los na exposição “Scopri la biodiversità”, na Expo 2015, de 1° de maio a 31 de outubro, no nosso espaço.

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