COP22: não podemos mais perder tempo.

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Em dezembro de 2015, ao encerrar a COP21, o Ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius. definiu o plano “um ponto de virada histórica” na meta de reduzir o aquecimento global. A imprensa do mundo inteiro celebrou o Acordo de Paris como um passo à frente necessário, embora imperfeito. Com o encerramento da conferência seguinte, a COP22 (que se realizou em Marrakesh de 7 a 18 de novembro), não houve o mesmo clamor midiático, em nenhum órgão de imprensa.

“A COP22 foi um seguimento quase superficial da COP21, e uma análise legal dos empenhos assumidos no ano passado. Segundo esperado, serviu para confirmar os termos do Acordo de Paris, mas não há nenhuma grande novidade a apresentar, apenas o processo de revisão que está previsto para 2018, data em que o Acordo deve passar a vigorar. Além disso, o processo de implementação é ainda muito longo, e não podemos mais perder tempo, a mudança climática não vai esperar as negociações humanas”, afirmou Luca Mercalli, renomado climatologista italiano, presidente da Sociedade Italiana de Meteorologia.

O aquecimento global é uma emergência mundial, que exige a nossa atenção total e imediata. Infelizmente, agora só podemos esperar, pois a nova administração dos Estados Unidos não definiu de forma clara suas intenções em relação ao Acordo de Paris, mas há um receio de que o país possa se retirar unilateralmente. Sabendo que os Estados Unidos, sozinhos, são responsáveis por mais de 15% das emissões de gases do efeito estufa, a retirada dos EUA tornaria todo o acordo inútil, pois outros países poluentes, como China e Índia, provavelmente acabariam seguindo o exemplo americano.

A desilusão da COP22 é que agora, quando mais do que nunca precisamos de ações urgentes, parece que os líderes mundiais estão hesitantes. No marco do Acordo de Paris, os países ricos se comprometeram a mobilizar 100 milhões de dólares até 2020 para mitigar as emissões de gases efeito estufa e, segundo os especialistas, esse valor está abaixo do necessário. E ainda assim, na COP22, os líderes mundiais, em vez de aumentar seu compromisso, não foram capazes de garantir o cumprimento das metas ratificadas pelo Acordo de Paris.

Ainda que o Acordo de Paris fosse cumprido, com toda probabilidade não seria suficiente para salvar o planeta. Dois graus de aquecimento global já seriam uma catástrofe, e talvez possamos assistir a um aumento de até seis graus nesse século. Não queremos nem pensar no tamanho do desastre. O Slow Food convida os signatários do Acordo de Paris a se empenharem em manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C, e a atuarem antes de 2020. Esse compromisso deve tornar-se prioritário em relação aos outros acordos comerciais – pois não podemos dar-nos ao luxo de falhar esses objetivos.

A impressão que tivemos na COP22 é que, mais uma vez, o enorme impacto da agricultura industrial nas emissões de gases efeito estufa, foi subavaliado, ou até ignorado. A pecuária intensiva é responsável por 14,5% de todas as emissões, mais que todos os aviões, trens e automóveis do mundo. E a situação não parece melhorar: a FAO afirma que, nos próximos 35 anos, o consumo de carne no mundo poderia duplicar. Uma posição mais firme deverá ser tomada pelos países mais ricos, e posta em prática imediatamente. O Slow Food acredita que podemos ainda salvar o planeta, mas somente se conseguirmos promover a agricultura de pequena escala, acabar com ajudas públicas à agricultura industrial, e reduzir drasticamente o consumo de carne.

Para ver o position paper do Slow Food sobre mudança climática, clique aqui.

Leia o position paper do Slow Food sobre a mudança climática aqui.

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