No dia 27 de fevereiro, o Banquetaço mobilizou cerca de 1000 brasileiros, entre sociedade civil e movimentos, com presença em peso do Slow Food em todo o país. Foram por volta de 20.000 refeições servidas em mais de 40 cidades, produzidas voluntariamente com ingredientes doados, a partir da metodologia da Disco Xepa. A ação contou ainda com apresentações artísticas, oficinas e debates sobre a volta do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), extinto em 1º de janeiro.
Para Glenn Makuta, do Núcleo Gestor da Associação Slow Food Brasil, “é uma ação importante para que as pessoas conheçam as conquistas ao longo dos anos de existência do CONSEA”. O conselho foi responsável, por exemplo, pelo Guia Alimentar para a População Brasileira, a Política Nacional de Alimentação Escolar e a retirada do Brasil do Mapa da Fome, em 2014. Em 2018, relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) relatou a possibilidade de o Brasil voltar ao mapa.
Muitos chefs colaboraram com o banquete. No caso da Bel Coelho, membro do Slow Food e do coletivo Banquetaço, a luta faz parte da trajetória profissional. “Eu acredito que o cozinheiro pode ter um papel de porta-voz dessas causas, já que essa profissão tem tido grande destaque na mídia”, comentou Bel.
Em 22 de fevereiro, quatro relatores da ONU enviaram carta ao Palácio do Planalto, em repúdio à extinção do conselho e aos possíveis retrocessos no direito à alimentação e à água. Segundo o governo, as funções passarão a outros setores, o que corroboraria para menor participação social, ferindo o exercício da democracia. Três dias antes, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão também considerou inconstitucional o fim do CONSEA, à medida que desampara a garantia humana à alimentação saudável, conquistada pelo órgão na Constituição Federal. Esse apoio, somado à mobilização da sociedade civil, é fundamental para atingir a classe política até que a MP seja votada no Congresso Nacional.